No dia 23 de abril, o Diretor do nosso Agrupamento convidou a Comunidade Educativa, que está de parabéns pela sua participação, para uma reflexão sobre educação, a partir do documentário High Tech High, Graduate que tem despertado interesse entre educadores e instituições de ensino que procuram modelos pedagógicos alternativos.
Na introdução, o Diretor justificou a iniciativa com o intuito de provocar o debate e inspirar práticas educativas mais centradas no aluno, fomentando a criatividade, a colaboração e a resolução de problemas reais. O modelo pedagógico tem sido particularmente valorizado por promover a inclusão e a personalização do ensino, «aprender fazendo», elementos considerados essenciais para enfrentar os desafios da educação de hoje e de amanhã.
Na verdade, o documentário High Tech High, Graduate apresenta uma abordagem educativa inovadora desenvolvida na escola High Tech High, em San Diego, Califórnia. A instituição é conhecida pelo seu modelo pedagógico centrado em projetos interdisciplinares, aprendizagem colaborativa, avaliação de competências, sem manuais, cujo centro é o aluno, procurando formar indivíduos mais críticos, criativos e preparados para os desafios da desregulação do trabalho, que está aí.
O modelo apresenta como pontos fortes o foco na personalização do ensino e na cooperação. Cada aluno é visto como um indivíduo com interesses, ritmos e talentos próprios. O trabalho baseado em projetos permite aplicar e partilhar conhecimentos e desenvolver aptidões em contextos reais, tornando a aprendizagem mais significativa e motivadora. Além disso, a ausência de «testes» tradicionais e a ênfase na apresentação pública dos trabalhos promovem competências para a vida como a comunicação, o pensamento crítico, autoestima e a resolução de problemas.
Sem excluir o papel do professor, que deixa de ser um “mero transmissor de conhecimento” para assumir a função de orientador e facilitador, através de uma relação mais próxima entre docentes e alunos, coloca o foco no envolvimento e no sentido de responsabilidade dos estudantes no seu próprio percurso educativo.
No entanto, este modelo também apresenta alguns desafios. A sua implementação exige uma profunda mudança de práticas por parte dos professores, alunos e encarregados de educação, o que pode gerar resistências.
Através de ricas e variadas intervenções de alunos, pais e professores no debate que se seguiu, ficou claro que:
- embora não seja uma solução única e aplicável a todos os contextos, o modelo apresentado aponta caminhos que podem tornar o ensino mais inclusivo, relevante e transformador;
- a mudança é necessária: equilíbrio entre inovação e tradição deve ser o grande desafio da educação contemporânea e futura;
- requer recursos humanos e materiais significativos, o que dificulta a sua aplicação em contextos com menos meios, como equipamentos, materiais e tecnologia;
- pode apresentar riscos como a perda da massa crítica e de conhecimentos essenciais ao exercício de profissões altamente qualificadas;
- pode traduzir-se na dificuldade de uniformização na avaliação, gerando dúvidas quanto à equidade dos resultados entre alunos e escolas.
- já se observam muito boas práticas nos trabalhos de projeto desenvolvidos no agrupamento;
- a “ditadura” de currículos longos e redundantes dificultaria a implementação da metodologia defendida;
- alguns docentes não se reveem nessas dinâmicas que desprezam o “conhecimento tradicional”, principalmente numa escola que está vocacionada para a formação geral que dá acesso ao ensino superior.
Seja como for, certamente que a Comunidade Educativa do nosso Agrupamento saiu mais rica, sensibilizada para as questões de “mudança”, consciente da necessidade de mudanças graduais, cautelosa nos passos exigidos por essa mudança, que só por si é um sinal de saber, enfim, um debate interminável porque em educação nada está concluído nem fechado, havendo sempre espaço para a inovação.
Texto escrito pelo professor Jorge Marrão
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