
Vencedor da 1.ª Fase − Região de Lisboa e Vale do Tejo
Sem ética, o desporto não tem vida
O desporto e a vida nascem de honra e paixão,
a falta de ética é pura traição.
Quem finge quer enganar,
mancha o desporto, a vida quer ludibriar.
Quando o talento cede à mentira,
o justo perde, a verdade suspira.
Se a mão que rouba levanta o troféu,
que glória existe nesse céu?
Doping, suborno, mentiras sem fim
queimam a ética, destroem-na assim.
O desporto não é só ganhar ou perder,
mas ser verdadeiro e saber merecer.
O árbitro compra-se, a regra é quebrada,
a fama arrasada, a vida enterrada.
Quem joga sujo esquece a razão,
troca o carácter por ilusão.
Mas o desporto mostra e a vida revela
que a verdade, um dia, a mentira cancela.
E no fim da linha, o que há para ver?
Vitórias vazias, sem nada a dizer.
Gonçalo Geraldes, 12.º A
Menção Honrosa na 1.ª Fase − Região de Lisboa e Vale do Tejo
Ética − uma necessidade
Ética, no desporto e na vida,
és em ambas corrompida
pela ganância de quem
almeja o que não tem.
Por dinheiro, são jogadores contratados.
Por dinheiro, muitos conseguem bons cargos.
Por dinheiro, fama ou poder,
há quem, facilmente, se deixe corromper.
O que é a ética afinal?
Será honesto quem o é apenas quando lhe convém?
O que os meus olhos veem
não pode agradar a ninguém:
Uns mentem na idade,
outros assinam papéis,
há quem faça favores por amizade,
há quem suborne árbitros “fiéis”.
Há muitos que se dizem honestos
prevaricam “só uma vez”.
Que importa? Se para conseguirem o que querem
são éticos, deixam de o ser e são-no outra vez.
Ana Souza, 12.º A
Mais dois participantes na 1.ª Fase − Região de Lisboa e Vale do Tejo
Ser é ser, viver é viver
O sentido de justiça e compaixão pelo outro devia ser mote na vida de todos nós. Mas não é. Na vida e no desporto, as nossas palavras e ações refletem os nossos mais profundos valores.
Não pensem que não sei. Vejo todos os dias dezenas. De casa para o trabalho e do trabalho para casa. Vidas sem rosto. Vidas sem serem desfrutadas, sem óleo de essência extraído. A vida é o sonho e a sua concretização. A probabilidade de nascer e ser da espécie humana é de um para um seguido de vinte e um zeros, mais alta do que qualquer jogo da lotaria, mais alta do que qualquer número humanamente raciocinado. Existir, existindo com a dignidade e qualidade que cá nos beneficiam, é uma bênção, não a arruinaremos. Não pensem que não vos vejo, todos os dias, sempre num clima apocalíptico. Vejo aqueles que, ao chegarem à escola, nem aos pais querem bem, percebe-se pelo fechar de porta indiferente e bruto. Que regozijo vos toca?
Pratico andebol há oito anos e tenho sempre trabalhado para conseguir os melhores resultados, como, aliás, sempre faço na vida. Desde maratonas, corridas, a pontuais treinos de natação, sempre numa luta frenética por nós, por mim e pela equipa. Nada de artificial. O esquecimento social é frequente, só temos um corpo. Ser membro de uma equipa é das maiores responsabilidades que pode haver. Indubitavelmente, a cooperação e trabalho coletivo, bem como o desportivismo devem ser a índole do atleta. Durante os jogos sou a pessoa mais calma que existe, podem perguntar a quem quiserem. Venho de um país onde a paixão desportiva (sobretudo a futebolística) lidera audiências e é de superior importância aos temas da atualidade, seja o primeiro-ministro a falar, seja o estado de saúde do papa. Não raro, a competição é objeto de corrupção. Todos sabem, ninguém, todavia, tem mão.
Não só por convicções religiosas, mas gosto de viver. Viver a vida com empatia e amizade para com todos. Ser correto passa por aceitar quando não o são connosco.
Aproveitar. O mundo da ética é complexo e político. Quem diz que não se quer envolver nega uma biblioteca de sabedoria. A nossa experiência valorativa alimenta um impacto na nossa vida do qual muitos não têm noção. Outros ignoram.
A honestidade competitiva, seja em que lugar for, revela-se cada vez mais crucial na estrutura e estabilidade social. Não se enganem. A ética não é um tema de filósofos, é intrínseca à razão humana, dádiva proprietária de todos nós.
João Valério, 12.º A
Jogar pelos dois
Éramos miúdos e, às sextas-feiras à noite, tínhamos a tradição de ir torcer pelo Odemirense, quando jogava em casa. Sempre que surgiam jogadas surreais, parecia que todas as minhas preocupações deixavam de existir, não havia mais nada senão aquilo. Eu sentia vontade de treinar cada vez mais arduamente para realizar o sonho de jogar naquele grande palco (que, na verdade, era apenas o velho campo da vila).
Num jogo de juvenis do Odemirense, clube em que eu e o João jogávamos há dois anos, contra o Milfontes, o meu irmão fraturou o perónio após uma entrada violenta de um adversário.
– Seus… – mordi a língua, como me ensinou o capitão – não pensam antes de agir? – rugi desesperadamente contra o agressor.
– Não foi de propósito, não creio … – sussurrou, em sofrimento, o meu irmão, para me acalmar talvez.
Não tardou o perentório diagnóstico do médico da equipa: o João precisava de tratamento prolongado e era incerto o seu futuro no futebol. O sonho dele tinha ficado despedaçado em fragmentos ósseos!
Soube eu, mais tarde, que o doutor Silva, em privado, reparando no estado do meu irmão, sugeriu o uso de substâncias que garantiam que ele pudesse, apesar da lesão, entrar em campo pelo menos uma última vez. Porque, afinal, todos o faziam de vez em quando, até aqueles que não tinham lesões. O meu irmão – nunca.
Após duas semanas seguidas de isolamento voluntário no quarto, onde eu deixara de dormir desde a maldita lesão, o João chamou-me. Ele foi o primeiro a falar:
– Afonso, sei que já não vou poder cumprir o nosso sonho, por isso tens que ser tu a cumpri-lo pelos dois. Prometes-me que o farás?
– Prometo – respondi. Estava pronto para entregar toda a minha alma só para o curar com a merecida glória.
Passados alguns anos, eu já jogava pelo Odemirense na quarta liga. Foram anos a fintar adversários e a mágoa de ver o meu irmão diluído entre os adeptos. As coisas não estavam a correr nada bem. Se perdêssemos o jogo seguinte, seríamos despromovidos da liga. O jogo era precisamente contra o Milfontes, e eu sentia o futuro como uma ameaça pendente do teto, prestes a desabar sobre mim a qualquer sopro de vento.
Nessa noite, quando o jogo ia no prolongamento, empatado um a um, recebi a bola dentro da área. O tempo parou. As expectativas da equipa, e especialmente as do meu irmão, começaram a pesar. Tinha que o vingar, não podia falhar. Este estado de transe não durou muito, rapidamente reparei no colapso do guarda-redes, que deixara a baliza aberta: era a minha oportunidade. De repente e sem pensar, chutei a bola para fora e, como que por instinto de proteção, fui assistir o guarda-redes adversário, que aparentemente estava com problemas respiratórios.
Acabámos por perder nos penáltis, mas o João não podia estar mais orgulhoso de mim.
– A vitória de nada vale se não for conquistada com honra – disse-me ele.
Lourenço Cravo, 12.º A
Textos enviados pela professora Carla Mariano
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