

A política não é uma profissão, é um dever cívico. – Simone Weil
Como vem sendo habitual nesta data, o Senhor Diretor do Agrupamento, Hernâni Pinho, deu início ao ciclo de palestras da comemoração do «Dia da Europa». No seu discurso de abertura, destacou a importância de envolver os jovens nos grandes temas europeus, sublinhando alguns desafios cruciais para o futuro da União Europeia, nomeadamente: a guerra, a segurança, as migrações. Seguiram-se as palestras, dinamizadas por especialistas de várias áreas, que decorreram ao longo da manhã, centrando-se no fomento do debate sobre «os desafios da União Europeia».
O Dr. Pedro Krupensky, membro da Fundação Oriente, abordou de forma clara e desassombrada o papel crescente da China no cenário internacional e os desafios que isso representa para a União Europeia.
Começou por contextualizar o percurso económico e político da China nas últimas décadas, sublinhando a sua ascensão como superpotência global. “A China deixou de ser apenas a ‘fábrica do mundo’. Hoje é uma potência tecnológica, diplomática e estratégica com ambições globais a longo prazo”, que sem fazer grande ruído acerca disso vai afirmando a sua influência nas mais diversas paragens do globo.
O orador salientou que a relação entre a China e a União Europeia é complexa e multifacetada: simultaneamente de cooperação e de concorrência. Referiu ainda que questões como a transição energética, a inteligência artificial e as cadeias de abastecimento estratégicas serão decisivas para o equilíbrio de forças entre as duas regiões, com preponderância da China na revitalização de rotas comerciais, como a “Rota da Seda”.
Terminou referindo-se à visão pragmática dos chineses acerca das relações internacionais, para quem os direitos humanos não significam o mesmo que para o ocidente ou nem sequer terão significado, dadas as condições políticas e históricas milenares do «império do meio». É preciso lidar com a China sem abdicar dos “nossos princípios fundamentais, mas não a obrigando a segui-los, porque isso não ocorrerá tão breve quanto se poderia pensar”.
O Prof. Dr. Carlos Medeiros, numa abordagem muito didático-pedagógica, viva, documentada com dados significativos e esclarecedores, começou por sublinhar o valor histórico e simbólico do projeto europeu, nascido da vontade de garantir a paz, a cooperação e o desenvolvimento entre os povos, só por isso valia a pena comemorar hoje os 75 anos da declaração Schumann.
Referindo-se aos desafios atuais, o professor percorreu as grandes áreas que exigem atenção e ação concertada, como: a segurança, as migrações e a coesão política interna. “A guerra na Ucrânia veio lembrar-nos de forma dolorosa que a paz não é um dado adquirido”, afirmou, realçando a necessidade de uma política externa e de defesa mais coesa, porque, segundo dados, a defesa passou a ser a primeira grande prioridade dos cidadãos neste momento.
Sobre as migrações, defendeu uma abordagem humanista e eficaz, que combine o acolhimento com a integração, uma vez que os Estados-membros precisam de rejuvenescer a sua população ativa.
A intervenção terminou com um apelo à participação dos jovens, como futuro da União, competindo-lhes também manter a utopia de um projeto de vida comum com indicadores de desenvolvimento únicos, por isso é “um território atrativo” que tem de ser preservado.
A eurodeputada, Dra. Ana Catarina Mendes, destacou a importância de reforçar o projeto europeu num momento de grandes transformações e incertezas, afirmando que “Vivemos tempos em que os valores da democracia, da paz e da solidariedade são postos à prova. A guerra às portas da Europa, as alterações climáticas, os desafios das migrações, as plataformas de redes sociais exige respostas comuns, firmes e solidárias”.
A eurodeputada sublinhou o papel das redes sociais e alertou para os perigos da desinformação, destacando o impacto das redes sociais na propagação rápida e massiva de informação falsa. Que a desinformação “mina a confiança nas instituições e enfraquece a democracia”. Deu relevância ao pensamento crítico dos jovens à promoção da literacia mediática e digital. Considerou ser fundamental que “cada cidadão saiba distinguir factos de manipulação”.
Finalmente, alertou para os perigos do populismo e da fragmentação política, sublinhando a importância de reforçar os laços entre os cidadãos e as instituições europeias.
Um dos pontos altos foi a mesa redonda com alunos do ensino secundário, moderada pelo Prof. António Caselas, que dinamizou uma reflexão crítica e participada sobre os grandes desafios contemporâneos para os jovens. O debate abordou temas como as alterações climáticas, a violência nas redes sociais, a participação cívica e política dos jovens, a questão das migrações, entre outros.
Os alunos mostraram-se particularmente preocupados com o impacto ambiental das decisões políticas e económicas, defendendo uma transição energética tão urgente quanto necessária. No que respeita às redes sociais, que mascaram a realidade, expressaram um sentimento geral, alertando para o crescimento de discursos de ódio e para a normalização da violência verbal entre jovens, apelando à moderação e a mais educação digital.
A participação na vida política foi também destacada, com vários intervenientes a sublinharem que desconhecem as formas de participação, mas centraram-se nos problemas de emprego jovem e de acesso à habitação. Sobre as migrações, os participantes manifestaram empatia e preocupação com os direitos humanos.
A sessão terminou com um apelo coletivo à ação informada e responsável, demonstrando que os jovens estão atentos e empenhados na preservação da democracia e na construção de uma Europa democrática, livre, mais justa e ecologicamente sustentável.
Reitero os agradecimentos ao Diretor do Agrupamento, Hernâni Pinho, pelo seu apoio inequívoco; à equipa de que me orgulho fazer parte: António Caselas, Cecília Almeida, Gorete Coelho, José Pedro Brites; aos nossos convidados que trouxeram reflexão e acrescentaram saber; à D. Marta Venâncio e sua equipa de Assistentes Operacionais; aos alunos intervenientes, aos que cooperaram na organização; a todos os professores e alunos que assistiram às palestras; a toda a comunidade escolar.
Foi, sem dúvida, mais um dia marcante para a comunidade escolar que, pela sua participação cívica, enobrece e dá vida ao Agrupamento de Escolas de Santa Catarina.
Texto escrito pelo professor Jorge Marrão - Presidente do Conselho Geral








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