Artigo de opinião escrito pelo professor Jorge Marrão, AE de Santa Catarina

A questão da renúncia do Papa Francisco começa a ser debatida, especialmente considerando o precedente estabelecido pelo Papa Bento XVI. No entanto, defende-se que Francisco não deve abdicar, pois o sofrimento, longe de ser um obstáculo ao magistério, tem um caráter salvífico que reforça a sua missão espiritual. Francisco vive numa aparente contradição. Na verdade, sendo de formação jesuíta (uma elite intelectual dos católicos), procura justificar a fé e a razão como caminhos para o mesmo fim, já a sua condição de franciscano, como marca do seu papado, como a pregação da humildade, aproxima-o da figura do Cristo sofredor. Neste sentido, a fragilidade, própria do Homem e do Filho de Deus, não deve ser ocultada nem exibida, mas vivida tal como é, e não de outro modo. Também não poderá ser comparado o magistério espiritual de Francisco, líder espiritual, - «o meu reino não é deste mundo» - João 18:36, com o exercício dos líderes dos estados, embora também seja o líder de um estado, o Vaticano.
Em primeiro lugar, a fragilidade e o sofrimento devem ser compreendidos à luz da doutrina cristã. Desde os primeiros séculos do cristianismo, o sofrimento, o sacrifício são meios de purificação e caminho para Deus. O próprio Cristo aceitou o seu calvário, oferecendo-se como cordeiro redentor de toda a humanidade. O Papa, como sucessor de Pedro e líder da Igreja, tem de assumir essa dimensão. A sua permanência no cargo, mesmo diante das adversidades físicas, não só reforça a sua missão de testemunho cristão, mas também inspira crentes e admiradores a abraçarem os desafios da vida com fé e coragem. Portanto, o sofrimento do Papa torna-se um sinal de entrega divina e humana. Fragilidade, sofrimento e sacrifício não significam incapacidade, muito menos abdicação.
Em segundo lugar, a figura de Francisco está profundamente ligada à espiritualidade franciscana, caracterizada pela humildade, serviço e identificação com os mais pobres, sofredores e marginalizados. Francisco de Assis (1181-1226), modelo espiritual do atual Papa, escolheu viver na simplicidade e na entrega absolutamente espiritual, assumindo o desprezo pelos bens materiais e a aceitação do sofrimento. Seguindo esse exemplo, Francisco tenta conduzir a Igreja com uma visão de misericórdia e proximidade aos mais carenciados. A sua permanência no papado, apesar das dificuldades, reforça a sua missão como pastor e guia espiritual, mostrando que a liderança não se baseia no vigor físico, mas na disposição de servir até ao fim.
Deste modo, a abdicação de Francisco não se justifica. O sofrimento não deve ser visto como uma incapacidade que leve ao impedimento, mas sim como um estado que enriquece a sua missão pastoral. A condição de líder, mesmo fragilizado fisicamente, é um testemunho poderoso de fé, perseverança e entrega total a Cristo. O Papa Francisco, como um verdadeiro franciscano, carrega a cruz do seu ministério com amor, sacrifício e dedicação, tornando-se exemplo vivo de calvário e salvação.
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