Artigo de opinião escrito pelo professor Pedro Miguel Rocha, AE de Santa Catarina

Num mundo cada vez mais marcado pela velocidade da informação, pelo ruído das redes sociais e pela proliferação de notícias falsas, o jornal escolar afirma-se como um instrumento essencial de educação, cidadania e pensamento crítico. É nas suas plataformas que se cruzam a liberdade de expressão, o rigor da escrita, o debate construtivo e o compromisso com a verdade. Os jornais escolares não são um luxo pedagógico - são uma necessidade imperiosa do nosso tempo.
Em pleno século XXI, educar já não se limita à transmissão de conteúdos: é formar cidadãos ativos, críticos e conscientes. E é precisamente aqui que o jornal escolar encontra a sua vocação mais nobre. Como reconhece a própria Direção-Geral da Educação (DGE), no documento A Aventura de Fazer o Jornal na Escola, estes projetos “constituem uma poderosa ferramenta de desenvolvimento de competências de comunicação, espírito crítico, criatividade, cidadania e literacia mediática”.
No entanto, a construção de um jornal escolar não se faz apenas com entusiasmo juvenil. Exige uma equipa docente empenhada, orientadora, inspiradora. Professores que, além das suas responsabilidades curriculares, aceitam o desafio de orientar redações, rever textos, estimular ideias, mediar debates. Como sublinha também a DGE, “a existência de um jornal escolar deve ser acompanhada por condições favoráveis à sua realização, nomeadamente, a atribuição de créditos horários para os professores envolvidos e o reconhecimento institucional do seu papel”.
Este reconhecimento é vital. Porque o jornal escolar não é um simples passatempo. É uma ferramenta pedagógica transversal. Um espaço de diálogo intergeracional, interdisciplinar, profundamente democrático. É nele que se ouvem os alunos, que se cruzam visões do mundo, que se constroem opiniões fundamentadas, que se aprende a importância da escuta, da empatia e da responsabilidade social.
Mais do que um produto final, o jornal escolar é um processo educativo contínuo. Os alunos tornam-se investigadores, entrevistadores, cronistas, repórteres da sua própria realidade. Aprendem a distinguir factos de interpretações, a trabalhar em equipa, a lidar com prazos, a aceitar críticas e a reescrever — competências fundamentais, tanto no meio académico como na vida profissional futura.
Num país que pretende apostar na literacia mediática, na formação de cidadãos informados e na educação para os valores democráticos, os jornais escolares deveriam ser considerados projetos estruturantes de escola, merecendo divulgação e continuidade. São arquivos vivos das escolas, espelhos das suas comunidades, motores de inovação pedagógica.
Por isso, é urgente que todas as escolas encarem o jornal escolar como uma prioridade educativa. Que os professores envolvidos sejam valorizados e apoiados. Que os alunos sintam que a sua voz conta. Que as famílias participem e reconheçam o valor deste trabalho coletivo. Que as entidades educativas o abracem como algo central e não periférico.
Como escreve a DGE no seu Referencial de Educação para os Media, é fundamental “estimular uma atitude crítica, consciente e participativa face aos meios de comunicação”, e os jornais escolares são, sem dúvida, a resposta mais próxima, eficaz e pedagógica a esse desafio.
Hoje, mais do que nunca, precisamos de dar a palavra aos nossos jovens e aos nossos docentes. E os jornais escolares são o lugar certo para que essa palavra floresça com liberdade, consciência e sentido.
Oeiras, 30 de maio de 2025
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