
Acompanhando alunos das turmas do 11.ºA e 11.ºB1 em visita de estudo à Nova FCT (Campus da Caparica), os professores Margarida (Física e Química), Brites (Matemática) e Caselas (Filosofia) puderam assistir a uma comunicação do Professor Carlos Fiolhais sobre Inteligência Artificial (IA).
Fiolhais fez uma breve história da IA antes da tecnociência recorrer à digitalização e focou-se depois no modo de funcionamento do ChatGPT. O ‘ponto forte’ da sua intervenção foi a demarcação da linha de separação entre a Inteligência Artificial e a Inteligência Natural. No entanto, essa questão revelou-se, a meu entender, frágil e discutível, uma vez que superioriza a IN perante a IA num possível confronto entre ambas a partir da dimensão emocional.
No entanto, Fiolhais (com o devido respeito) esquece que a IA já simula e manipula as modalidades da referida dimensão emocional. Observamos isso no universo da ficção (por exemplo no filme Ex-Machina), mas também em programas que procuraram informação usando simulações baseadas em motivações emocionais.
Num artigo anterior aqui no Jornal "O Catarino" tive oportunidade de enunciar esse evento que foi referido pelo historiador Yuval Harari. A consideração de que a IA será fácil e objetivamente superada pela IN baseia-se numa crença ou num ‘ato de fé’. Um cientista célebre deveria evitar esse tipo de considerações.
Fiolhais, durante a sua comunicação, enalteceu sobretudo a dimensão cognitiva da IN, mas no final referiu explicitamente que o combate entre a IN e a IA conduzirá à vitória (futura e possível) da IN no plano emocional. Nesse aspeto inspirou-se em Kai-Fu Lee e no seu livro Superpotências da IA. Essa linha de pensamento é polémica.
Outra questão igualmente polémica abordada por Fiolhais consistiu na tentativa de superiorizar a IN perante a IA na base de valores éticos que, por sinal, são cada vez mais desvalorizados: a compaixão, a solidariedade, a cooperação, o amor e outros. Sabemos que esses valores mesmo no plano mais abrangente da ação política são desprezados, mas isso não significa que nos devemos afastar da sua valorização prática. O que não se pode afirmar é que essa valorização já é um dado adquirido perante a ameaça que a IA (generativa e geral) representam. Como cientista de renome, Fiolhais deveria, porventura, optar por uma abordagem mais problematizadora e não ‘otimista’.
Nesse aspeto, distancia-se de especialistas da área da IA e mesmo de investidores dessa área. Recorde-se que o próprio Bill Gates se mostrou receoso perante os avanços da IA geral ou IA forte. Foi um dos promotores de uma declaração organizada pelo Center for AI Safety, que alertava para os perigos do uso desregulado da IA geral.
Musk mostra-se sempre mais ambíguo: assinala os perigos que a IA representa, mas multiplica os seus investimentos nesse domínio. Recentemente apostou na plataforma Grok 3.5, que à semelhança da DeepSeek R1 privilegiará uma autonomia e uma ‘criatividade’ própria que não depende de informações disponíveis na Net. O seu poder será exponenciado e exigirá investimentos maciços. Representará, sem dúvida, uma nova ameaça.
Texto escrito pelo professor António Caselas






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