Artigo de opinião escrito pelo professor António Caselas, AE de Santa Catarina

Na década de 60 surgiu o filme (comédia) Vêm aí os Russos. Um submarino soviético encalha, por acidente, na costa dos Estados Unidos e causa uma onda de histeria. É certo que o episódio cómico parodiava a tensão própria da Guerra Fria, mas parece que agora, sem razões para rir, a histeria regressa.
Líderes políticos e militares europeus tentam convencer as populações que a possibilidade de existir uma guerra contra a Rússia se tornou uma realidade na sequência da invasão da Ucrânia. A retórica dos dirigentes pretende despoletar uma corrida ao armamento, mesmo em desfavor de investimentos em áreas mais prioritárias.
A guerra na Europa prolonga-se para além das expectativas dos agressores e dos agredidos. Diz-se que os países próximos ou distantes do Império expansionista de Putin devem rearmar-se até aos dentes. A Rússia é considerada uma perigosa ameaça apesar de estar à beira do terceiro ano sem conseguir ocupar partes significativas do território soberano do antigo território soviético. Apregoa-se que Putin quer ocupar os países europeus aquém da Polónia. Todos se devem armar o mais rapidamente possível e em força.
Os Estados Unidos, que é o país que mais contribui para o esforço de defesa da Ucrânia exige agora que os países europeus invistam mundos e fundos nas forças armadas. Alguns defendem sem subterfúgios serviço militar obrigatório, como é o caso de um dos candidatos às eleições presidenciais em Portugal. Comentadores e analistas comportam-se como se Portugal estivesse em pé de guerra.
Mas será assim? Essa corrida ao armamento servirá para defender a Europa do expansionismo russo? Se Putin invadir a Polónia todos estaremos em perigo? Devemos recear uma invasão devastadora e, por isso, devemos estar preparados? Devemos investir já milhões em armas e logística para nos defendermos dos perigosos russos?
Se a Polónia for invadida os países da Nato serão obrigados a intervir. Terão como missão ajudar o país a defender-se. Não terão capacidade para o fazer? O poderio russo é tão assombroso que justifica esse receio? E se assim é, por que razão não ocupou ainda a Ucrânia? E se o fizer a Europa irá sucumbir?
Essa nova onda de histeria (agora fora do território da ficção) justifica-se ao ponto de se acelerar e intensificar o investimento militar considerando-o prioritário? Ou seria a oportunidade perfeita para dinamizar o negócio das armas e permitir escoar as mercadorias dos países produtores?