Trump e o “Trumpismo”

Artigo de opinião escrito pelo Professor António Caselas, AE de Santa Catarina


Os movimentos soberanistas - sejam de extrema-direita ou esquerda - propõem um recuo no tempo, um retorno à situação de Estado-Nação. Negam ou rejeitam a realidade do presente, o fenómeno transnacional da globalização. Este tem uma expressão económico-financeira, sociocultural e política. Negar isso corresponde a uma regressão ideológica, sendo um arcaísmo absurdo. Põe em causa não apenas os valores e a sua legítima e atual abrangência, mas a realidade económica e comercial.

O trumpismo, a ‘ideologia’ formalizada em que o Partido Republicano se anulou perante o movimento MAGA, é uma ameaça à realidade consagrada pela globalização. Se esta tem limitações e falhas, não será através de uma regressão que estas serão resolvidas.

Os valores defendidos pelo trumpismo (que, em termos distintivos, designa o populismo americano de extrema-direita, protecionista e soberanista) implicam a discriminação e subalternização de minorias, o racismo e a subvalorização e perversão das instituições democráticas e é essa mesma regressão que deve ser combatida. Deve ser desmascarada e desconstruída no Ocidente e noutras regiões do planeta.

Substitui a contradição e a dissensão democrática pelo ódio e pela violência. O engano, a mentira e a manipulação integram o discurso deste tipo de movimentos. As contradições teóricas e práticas são escamoteadas ou iludidas pelos mecanismos básicos de uma retórica emocional e pela substituição dos factos pelas opiniões e crenças. A verdade é substituída pela ficção enganadora.

Se alguns assinalam o efeito de contágio, ou seja, receiam que o fenómeno do trumpismo ou ‘maganismo’ reforce a tendência de assalto ao poder legislativo e executivo de alguns movimentos e partidos populistas, outros indicam que esse tipo de fenómenos sociopolíticos pode ser atenuado ou desaparecer com o tempo.

Porém, a ameaça persiste num contexto em que o demagogo americano viu reforçado o seu poder. Esse reforço e a tradicional influência (pelo menos na dimensão histórica) dos Estados Unidos introduziu uma variável que poucos esperavam. Sabemos que no passado a eleição ou escolha de líderes autoritários teve consequências trágicas e a circunstância de um dirigente antidemocrático adquirir um poder quase absoluto numa superpotência pode trazer consequências, no mínimo, preocupantes.